30 de dez. de 2010

Xi-ri-gui-dum

“Ai ai! Acho que essa temporada na casa do meu pai vai ser boa pra minha cabeça, a vida aqui é bem mais zen. Tirando o fato do meu pai ter uma adoração excessiva por Shakespeare, ele até é uma pessoa normal e inteligente. Até já to sentindo saudade daquele gordo desnecessário do Paulo Afonso, mas pensando o quanto ele me azucrina, a saudade já passa. E vai ser bom para a mãe criar juízo e assumir as responsabilidades... Ai não!

- Paieeê, o Hamlet tá aqui no meu quarto, tira esse rato daqui!

- Não é rato, filha, é um esquilo. E trate bem dele, tu não tens noção o quanto foi difícil conseguir licença pra criá-lo aqui. E domesticar, então...

- Tu diz domesticar um animal que espalhou minhas maquiagens por todo o quarto?

- Ele é uma criança brincalhona.

- E bagunceira, agora tira ele daqui. Preciso me arrumar.

- Vai sair hoje?

- Vou.

- Posso saber com quem?

- Um carinha que conheci no carnaval. Mário.

- E o que ele faz?

- É traficante, tem 2 piercings na boca. Ficam lindos nele.

- JULIETA CRISTINA! Eu não vou...

- Relaxa pai. Ele é recém formado em Direito, quer ser advogado, semana que vem é a prova da OAB dele.

- Formou-se e continua sendo nada. Típico de estudantes de Direito. Entre o advogado e o traficante não sei qual escolher.

- A escolha é minha, pai.

- Eu sei, amada minha. Eu sei. Boa sorte e juízo nesse corpinho.

- Obrigada pai.

“É outro nível esse meu pai. Vou com meu vestido vermelho. Tá, tô nervosa. O Mário é tão gatchinho”.

(Ao chegarem ao restaurante em que iriam jantar).

- Ai, me solta!

- O que houve, Ju?

- Enrosquei minha bolsa na cadeira.

- Ah sim, as cadeiras tem essa louca mania de segurar as pessoas.

- Obrigada por contribuir com a vergonha que sinto nesse momento.

- Gosto da cara que tu faz quando fica com vergonha e a tua auto-indignação me diverte.

- Sem graça, você, hein?

- Não sabe receber elogio?

- Ah! Foi um elogio? Muito obrigada.

- De nada. Bebemos vinho?

- Ótimo.

- Faz dois meses que a gente se conhece, conversamos seguidamente, só agora que a gente está saindo juntos, mas tinha certeza que seria divertido.

“Ai, nervosa. Que fofo! Eu tava louca pra sair contigo, bofe. Toma um gole de vinho, Cris, fazer charminho pra responder é o que há. Não tire os olhos dele, fixe. Merdê. Ai, não, derrubei o vinho dentro do meu prato. Desastre!”

- Opa.

- Vai dizer que você gosta de tomar vinho de colher?

- Ai, não brinca, tu ta vendo o desastre que eu sou, se quiser, podemos ir embora.

- Por isso? Eu to adorando estar aqui.

- Isso não me faz sentir melhor.

- Ju, olha pra mim.

- Oi, tô olhando!

- Quer namorar comigo?

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