30 de nov. de 2010

Conto da traição

Ele sentou-se à mesa para tomar o café da manhã, e dando-se conta do quão atrasado estava, saiu correndo de casa. Ela, aproveitando sua manhã de folga, acorda e resolve que vai fazer yoga. A campainha toca, Ela respira fundo mas atende. Quem quer que fosse já estava atrapalhando seus planos para a manhã. Ela abre a porta: era o outro Ele, André. Simplesmente perfeito, na sua frente, parecendo que os olhos realmente a procuravam.

- Bom dia. Seu marido está em casa?

- Acabou de sair – diz Ela, ainda desconsertada.

- Era tudo o que precisava saber.

André a agarra pela cintura e os olhares se encontram. Ela empurra a porta, que fecha em uma ‘bac’, ainda meio assustada, confusa, sem saber direito como reagir. Ela apenas o olha, sem saber também se a vontade era de se entregar ou de fugir.

André diz o quanto a deseja, que não agüenta mais controlar seus instintos, e a domina com suas palavras.

Beija-a.

Ela beija... o outro Ele, que passa suas mãos quentes pelo corpo dela e a deixa louca de desejo, e o beija com mais fervor e arranha, lhe tira a camiseta. Assim, atracados, sobem até o quarto. O outro ele deita Ela na cama e beija todo seu corpo, tirando-lhe a roupa aos poucos, passando as mãos como que decorando cada detalhe do que sentia. A pegada dele, o jeito que André a tocava e a fazia sentir-se desejada, isso a enlouquecia, fazia Ela querer mais.

No radio, Prince – Purple Rain, abraçando o momento.

I never meant to cause to any sorrow
I never meant to cause you any pain
I only wanted to one time see you laughing
Only wanted to see you laughing
In the purple rain
Purple rain
Only wanted to see you bathing
In the purple rain
I never wanted to be your weekend love
I only wanted to be some kind of friend,
hey, Baby,
I could never steal you from another
It's such a shame our friendship had to end
Purple rain
Only wanted to see you under neath the purple rain
Honey, I know, I know, I know
Times are changing
It's time we all reach out for something new
That means you to
You say you want a leader
But you can't seen to make up you mind
I think you better close it
And let me guide you
Until the purple rain
Purple rain
Only wanted to see you In the purple rain

As mãos dela envolvem o corpo dele agora, ele a beija no pescoço. Arrepios. As mãos dela o agarram com mais força. Ela o quer, deseja, quer ali e já. O outro Ele a quer, sussurra em seu ouvido o quanto ele quer devorá-la todinha, ali mesmo.

Os corpos se unem, se fazem um só.

De repente o celular toca, Ela não quer atender, ignora. O celular não para. Pode ser Ele. Sim, é Ele. Ela deve atender. Estica o braço pra alcançar o aparelho, o outro Ele a beija no pescoço, morde seu queixo. Ela o encara, o beija. Celular tocando, ela atende enquanto André passa a língua no corpo dela. O corpo que tantas vezes o fez perder a linha, agora ali, todo dele. Celular toca. Ela agarra André, fica por cima dele, dominando o outro Ele, beijando o outro Ele, fazendo entender o quanto o outro ele a excita, a enlouquece. Continua tocando o maldito celular. Ela atende. Celular toca. Ela já havia atendido. Celular não para.

Ela acorda com o despertador na orelha. Um misto de sentimentos. Não gostou de ter acordado, sentia-se feliz. Contrariada, foi tomar uma ducha fria.

29 de nov. de 2010

Um brinde às amigas

- Juju, eu ganhei uma garrafa de cachaça de pitanga, tem um sabor maravilhoso. Me deu um ânimo que estou com vontade de fazer um jantar pra gente beber.

- A gente? Mãe, onde eu entro nessa história?

- Convidando nossas amigas para virem aqui em casa.

- Minhas amigas, você quer dizer.

- Nossas.

- Mãe, elas são minhas amigas. M-I-N-H-A-S. Não é porque você escuta atrás da porta pra dar conselhos furados, que elas te consideram amiga.

- Elas gostam de saber minha opinião.

- Elas fingem que gostam.

- Elas sempre me ouvem.

- Pra fazer o contrário do que você diz.

- Convida elas, assim saberemos.

- Tá.

- Manhêêê, o que são essas bolinhas vermelhas no fundo dessa garrafa?

- É filhote de abóbora, bocaberta, não mexe nisso, coisa.

- Mãe, olha a Julieta me xingando.

- Parem vocês dois. Juju, vai ligar ‘pras’ nossas amigas e Paulo Afonso, me devolve isso aqui que não é pro teu bico.

- O que são mamãe?

- Pitangas.

- Ah! Adoro tudo o que tem pitanga.

- E o que não tem também, gordo infame.

- Sai Julieta. Não ouviu a mãe dizer pra você ligar para as amigas de vocês? Né mãe?

- É... vocês dois!

E no jantar, com as amigas...

- Quero propor um jogo.

- Mãe, isso não vai dar certo.

- Ah Cris, deixa tua mãe falar, pode ser divertido.

- Ouviu, Juju? Bom, a idéia é a seguinte: como aqui estamos apenas entre amigas, vamos fazer o jogo da verdade, quem mentir e ser desmascarada toma um ‘martelinho’ dessa maravilha que ganhei.

- Mãe, do jeito que as gurias são, vão mentir de propósito.

- Cala a boca Cris, a gente não vai fazer isso.

- O jogo acaba quando acabar a bebida.

- Feito.

“Jogo já terminou? Ah sim, todas bêbadas, menos a mãe, ela conseguiu perguntar pra todo mundo se elas realmente a consideravam como amiga. Hahaha, deve estar desolada. Azar, foi ela quem inventou o jogo.”

“Ei, eu não consigo me fixar na conversa, tô me sentindo atolada nesse sofá. Mãe, o PA ta comendo as pitangas. Mãe, olha ele. Mãe, cuida. Peraí, eu não consigo falar, minha língua ta amortecida”
- Que porcaria de lugar é esse? Acho que já estive aqui. PA, o que você faz nessa cama... com soro?!?!

- Você também tá tomando.

- Como é? Opa. É verdade!

- Mana, enfim concordamos em algo. Entramos em coma alcoólico.

- Ai não. Morri!

26 de nov. de 2010

Conto dos braços malhados

Outra noite quente na academia, ela ta de tpm e com fome. Nada de anormal, nada que cause uma queda de pressão, mas queria comer algo bem gostoso, frito, grande... uma gordice, tipo X-Tudo com muita mostarda. Nada de H2O ou Coca Zero, queria uma cerveja gelada... Mas ao invés disso tava lá, toda suada, fazendo força naquele maldito supino. "Pra quê?", pensava ela... Quando experimenta uma calça, não é com os braços que se preocupa. Quando vai de biquíni á praia, não é pra ver o bíceps que ela se contorce de costas no espelho.
E o pior da seção de tortura: ele. Agora resolveu que vai ser o personal trainer dela, "ajudando" a malhar. Está posicionado atrás do aparelho, contando os movimentos e falando palavras de incentivo como "vai amor, só faltam três". Ela só conseguia pensar no som de “Bili Rubina”:

"Meu amor, eu te odeio
Você me perturba
E um dia ainda vou conseguir te matar

Meu amor, não sei o que eu sinto
Tô num labirinto
E esqueci de trazer um fio prá retornar

Mas meu bem, tudo bem
Meu bem, tudo bem
Eu juro que levo teus olhos castanhos comigo

Meu amor, não fale comigo
Sou teu inimigo
E um dia ainda vou conseguir te matar

Amor, cale tua boca
E tire tua roupa, benzinho
E vamos acalmar nossa dor

Mas meu bem, tudo bem
Meu bem, tudo bem
Eu juro que levo teus olhos castanhos comigo"

E ele ainda ali, animado, achando que ela contorcia o rosto por fazer força pra levantar o peso. Mas era raiva mesmo... ele, como sempre, cheio de boa vontade, querendo ajudar. Foi o primeiro homem que a convenceu a malhar, mesmo dizendo que ela é a maior gostosa da face da terra. Ela sabe que não é, mas ele a faz acreditar nisso sempre. Ele a mantém com a auto-estima lá em cima... "bora, amor, é o último". Ela sorriu de leve, respirou fundo, terminou o exercício e passou para o próximo aparelho. "Zeus, como eu odeio malhar braço..."

25 de nov. de 2010

Pra toda regra há uma exceção

Cóóóliicaaa!

Quem vai conseguir se concentrar com uma dor dessas? Ainda mais que vou me encontrar com o Gustavo depois da aula.

Ai...

Gustavo, um nome normal! Obrigada meu anjinho dos nomes esquisitos, dessa vez tu foi bem legal comigo. Até to vendo (ai, que dor) eu chamando ele de Gu, quanto estivermos juntos.

Dóóóíiiii.

“Meu” Gu.

Ai ai"

Ah!, Só podia ser eu, vou ter que mandar mensagem pra mãe. O Gu..., vou ver ele hoje: alegria mode ON.

* Mãe, troquei a bolsa e acabei me esquecendo de pegar absorvente, quando passar aqui já traz um pra mim e algo pra dor. Bjo*

(mensagem enviada com sucesso para Gustavo)

Pra quem?

Eu não posso acreditar que eu fiz isso! Não. Fruta que partiu, eu fiz. O que o Gu vai pensar? Que mandei a mensagem errada de propósito só pra ver a reação dele? Idiota!

Telefone ta tocando, é ele. Vou correr pra fora da sala de aula. Cris, não precisa tropeçar na mesa... nem na cadeira... nem na mochila do colega... nem no fio do retro-projetor. Quem enfiou esse lixo de lixeira no meu caminho?

- Alô.

- Oi Julieta

- Oi, Gu... Gustavo!

- Problemas?

- É... e.. bem capaz, nenhum. Por?

- Recebi uma mensagem tua.

- Recebeu (como se não soubesse - Idiota ao cubo)?.

- É, você está bem?

- Sim, ótima!

- Pois então...

("Já sei onde vai parar, vou sair por cima nessa história.")

- Olha só, Gustavo, não tô a fim de sair contigo mesmo, você não me merece, é imaturo, espero que não me procure mais.

"Cóóóólica"

- Julie...

- Sem mais Gustavo, preciso voltar pra aula, você está atrapalhando. Passar bem!

Desligo o telefone. Cinco minutos depois...

- MENSAGEM RECEBIDA -
* Não sei o que houve, só queria combinar um programinha mais 'light', caseiro, já que imagino que você esteja com dores, mas se preferiu assim, passar bem*.

Juro que fico bem. Alguém tem um revólver aí?

23 de nov. de 2010

Conto do telecatch

“Amor, tá começando a luta, vem logo!”

“Eba” pensa ela, “adoro essas lutas coreografadas do SBT”, pega a pipoca no microondas e vai pra sala. Aconchega-se no sofá, deita a cabeça sobre a coxa dele e começa a rir da indumentária do desafiante. “Linda, se um dia eu pensar em aceitar dinheiro pra fazer isso, com esse tipo de roupa, me interna, tá?”, e os dois caíram na risada.

A luta seguia, descaradamente coreografada. Ela ganhava cafuné na nuca, foi ficando preguiçosa e acabou por dormir. Ele percebeu e diminuiu o volume da televisão, afinal ela acordou cedo pra fazer faxina em pleno sábado, enquanto ele passeava com os cachorros. Pensava em como ela é dedicada a tudo o que faz, desde uma faxina até a preparação de material para uma reunião importante no trabalho, sem descuidar dele, da casa e da própria aparência. Aliás, que aparência! Ela tem estilo, tem classe até de biquíni fio dental. É alegre, criativa, uma santa na rua e uma... “Eu devo ter sido uma pessoa muito boa em outra vida.”

Ela abre os olhos por um momento, quando o locutor grita “fim de luta por nocaute”, parece um pouco assustada. Olha em volta e lembra que está no sofá com ele. Sorri, ajeita-se melhor e cochila novamente.

Ao se virar, o vestido subiu e deixou seu corpo á mostra. Ele esqueceu a luta que recomeçava e ficou olhando as curvas de sua esposa. Malhada, bronzeada, as formas mais bonitas do que quando se conheceram, e já se vão anos do começo da relação. Lembrou da música que dedicou a ela num karaokê, totalmente bêbado, quando a pediu em casamento...”tens um não sei o que de paraíso e o corpo mais preciso que o mais lindo dos mortais, tens uma beleza infinita e a boca mais bonita que a minha já tocou...”

Seus olhos, repentinamente, se encheram de lágrimas, sentiu-se culpado.

“Se eu amo tanto minha mulher, se admiro tanto, porque penso tanto na Sabrina?”

22 de nov. de 2010

Não tem cara de tiozinho

- Porra mãe, me acordar cedo no domingo pra ir a almoço beneficente é o fim da várzea, né?

- Julieta Cristina, isso são modos de falar com a tua mãe? Puta que pariu, hein?

Bom, ela mesma respondeu, não preciso dizer mais nada...

- E esse gordo, ele tá indo pra levar o almoço beneficente à falência? Aliás, é em benefício de quem mesmo?

- Sei lá, Julieta, é da igreja do bairro.

- Ah tá, em benefício próprio então.

- Caralho Julieta, isso é jeito de falar?

- Ué, achei que depois da conversão pro espiritismo...

- É zen-budismo, sua aculturada. Droga Paulo Afonso, sai logo do banheiro! Julieta, vai limpar o cocô que a Sinfonia fez no corredor! Se ajeitem logo, o Fernando já deve estar chegando. Vocês só me atrasam, dá pra fazer alguma coisa direito? Julieta Cristina, essa zona que você chama de quarto vai ficar assim? Paulo Afonso, sai do banheiro, quero ajeitar meu cabelo! Cadê o lerdo do Fernando que não chega nunca?

Caramba, parece que o zen-budismo deixou minha mãe meio tensa... Tá, pelo menos a Lidi e a Naty também vão nesse almoço falido. Saco, odeio acordar cedo em domingo, odeio comer nesse tipo de lugar, sempre tem alguém fedido do meu lado.

- Manhêêê, o pápi chegou!

- Ô, abostado, o Fernando não é teu pai. Aliás, nem eu sei quem é teu pai, seu retirado do lixão. Fala pro Fernando que a gente já vai pro carro, vou avisar a mãe.

- Já escutei, não sou surda como vocês. Julieta, isso é roupa que se use numa igreja?

- Ai mãe, não me torra, tua saia é mais curta que a minha

.- Óbvio que não, eu é que sou mais alta que você. E não enche meu saco, criatura!

'Cegonha querida, não tinha um lugar mais 'normal' pra me largar, tipo assim, um centro de estudos psiquiátricos? Gente doida.

- Seu gordo imbecil, já te falaram pra não peidar num ambiente fechado? Ô mãe, teu filho peidou de novo. E ele comeu pizza de atum com ovo ontem de noite, né?

- Paulo Afonso, cadê os modos? Esqueceu a educação que te dei, merda!

- Calma, bonecrinha, tá tão nervosa hoje...

- Ai Fernando, não se mete também que hoje não tô boa.

Céus... não é TPM, porque a mãe menstrua junto comigo e isso foi na semana passada. Então, se a mãe não menstruou semana passada e tá nervosa... e o Paulo Afonso tá com 9 anos e nossa diferença é de 10 anos... Socorro, essa louca tá grávida de novo! Eu vou chorar, juro que vou.

- Tá, chegamos. Vou falar umas coisas e não vou repetir: Julieta, sem gritos histéricos quando encontrar tuas amigas piriguetes, P.A. sem arrotar, peidar e enfiar o dedo no nariz, e não enche a boca de comida. E Fernando, se eu te pegar se engraçando pra alguém eu te defenestro da minha vida, ouviu? Julieta, sem gritar, tá?

- Tá se repetindo, mãe. Pode deixar, não vou gritar, aliás não faço isso desde os 10 anos, sabe...

- Não me retruca que não tô boa!

Medo, muito medo. Cadê minhas amigas? Preciso de carinho... Ai, xiriguidum, o profe novo da academia!

- Cris, te achamos!

- Lidi e Naty, que alííívio encontrar vocês! Viram o gato dos gatos ali na mesa do canto?

- Vimos sim, mas ele tá acompanhado. Tá sentada amiga?

- Ai G-Zuis... Com quem ele tá?

- "Com quem" não, fófis, "contra quem". Sabe a Aline, aquela vadEa láda facul? Segura teu queixo, mas eles chegaram de mãos dadas!

- Tô bege!! Aquela vagabunda que os guris chamam de saco de esperma?

“Odeio, odeio muito, tomara que ela morra de catapora! Ai, não, eles tão vindo pra cá! Disfarça...”

- Oi, gurias. Queria apresentar meu namorado pra vocês, o Ju.

- Oi Ju. A gente te chama de professor Marques, não sabia teu nome.

- Na real, meu nome é Juvêncio.

- Ah sim... (Murphy, seu filho da puta, sai do meu pé. Já não basta o professor 'depois de lindo" da academia namorar essa... essa... essa... essa imoral, ele ainda se chama Juvêncio? O que mais pode piorar?)

- Cris, viu que tristeza a roupa dele?

- Ai nem reparei. Tive um engulho quando escutei o nome, tive que me controlar pra não ter uma síncope, então não vi mais nada.

- Ele tá de papete, bermuda de tiozinho e camiseta pólo. Por dentro da bermuda.

- Papete? Eu até aceito a camiseta por dentro da bermuda, mas... papete? Preciso ver isso, eles sentaram na mesa em frente à minha. Depois a gente se fala, gurias!

Tá, e a vergonha de sentar nessa mesa? O Fernando come igual um ogro, o decote da mãe é tão grande que tem macarrão no meio dos peitos dela, e o P.A. tá com o nariz escorrendo e comendo com a mão. Alguém por favor me trucida? Deixa eu olhar pro pé do querido... Ai credo, não é papete, é sandália Franciscana! Socorro. Nããão, ele tá de pochete!

- E pra beber, moça?

- Cicuta, por favor.

19 de nov. de 2010

Conto do nanana

Segunda à noite, calor inacreditável, a chapinha do fim de semana desmanchando-se no rabo de cavalo mal fixado, academia cheia e barulhenta.

Ela odeia malhar, mas é um mal necessário. Após alguns meses de exercícios forçados começou a perceber o efeito em seu corpo, que está muito mais firme, sente-se melhor e com mais energia. Aliás, hoje ela se sente linda no short de suplex e camisetinha branca, com top preto por baixo. Até ele comentou que ela anda muito gostosa...

O pior de tudo é a esteira. Fica logo na entrada da academia, parece que querem mostrar pra todos que as pessoas estão se esforçando lá dentro. Ela aumenta o volume no mp4 (o som ambiente é de trincar os tímpanos), respira fundo e começa a correr. Quase cantarolando, sente uma disposição anormal pra se mexer. Aumentou a velocidade. O suor já descia pelas costas e pela barriga, passou a toalhinha pelo rosto. Quando abriu os olhos novamente, achou que estava tendo uma ilusão de ótica. Olhou para os lados, respirou fundo e olhou de novo: era o outro ele sim! Lindo, de bermudão e regata, segurando um squeeze com umas pedrinhas de gelo dentro. E ela sentindo tanta sede...

O mp4 começa a tocar Wonkavision:

"Faltam poucas horas para eu ir

E ainda não sei o que vestir

Pra ter certeza de te impressionar

Já pus o meu armário para o chão

Sem encontrar qualquer solução

Eu queria apenas te agradar

Olho o espelho e vejo alguém confusa

Achando que uma blusa vai fazer

Ele se apaixonar

Faço o que for pra ganhar o seu amor

Nana nananana nananana

Sei que mesmo que a cor do meu batom

Venha a ser do mais perfeito tom

capaz de tirar sua respiração

Não quero que isso aconteça assim

Quero que enxergue através mim

Por baixo de toda essa produção

Olho o espelho e vejo alguém confusa

Achando que uma blusa vai fazer

Ele se apaixonar

Faço o que for pra ganhar o seu amor

Nana nananana nananana

Seja o que for, bom, tudo bem

Vem, sempre tem quem faça a alguém bem

Mesmo sem-sem saber bem-bem

Quem é quem ou de ninguém

Tanto faz, mas quero mais-mais

Foi tão bom-bom, com você-cê

Se quiser mais-mais, tudo bem-bem"

"Droga, tô toda desarrumada, descabelada, nem usando gloss eu tô!", ela se recrimina. Diminui a velocidade da esteira (tropeçar agora não seria uma boa) e finge que é uma samambaia. Olhos fixos na parede à sua frente, passa novamente a toalha pelo rosto. Quando abre os olhos, não vê mais a parede e sim ele e o outro ele, conversando.

- Amor, esse figura vai malhar no mesmo horário que a gente!

Figura? Já tá assim a coisa? "Oi, tudo bem?", cumprimenta, quase sem fôlego, mas pelo menos dessa vez ela falou... "Vais treinar luta também?" perguntou, pra não morrer o assunto, "sim, teu marido me falou que o mestre é tri bom" "legal, começa a alongar que o treino é daqui a pouco!" sugere, sorrindo e suando, e aumenta novamente a velocidade da esteira, como que encerrando o papo.

O outro ele sorriu, deu dois passos em direção à sala de artes marciais mas parou exatamente ao lado dela. Como é muito alto, seus olhos ficaram no mesmo nível, muito próximos, e ela ouviu baixinho "tu é a única mulher que eu conheço que fica linda suada e correndo na esteira, nem assim tu perde a elegância"... e seguiu pra aula.

Logo em seguida acabou a bateria do mp4 e ela foi malhar braço, revezando aparelho com aquelas patricinhas cor-de-rosa da recepção.

18 de nov. de 2010

O segredo de Juju

“Mas que jeito de acordar”

- Sai daqui Sinfonia, quem te deixou entrar em casa? De quem é esse sapato na sua boca? Aposto que o namorado da mãe ta aqui. Rói bem, Sinfonia, até a sola, depois eu pago teu veterinário.

“Cadela desgraçada, fez xixi no meu tapete e eu obviamente pisei em cima. Espero não ver a mulher do meu chefe dizendo ‘veja pelo lado bom, pelo menos pisou com o pé direito’’.

- Chuleta Cristinaaa. A Sinfonia ta aí? Ela escapou da corrente e roubou meu sapato novo.

- Fernandoooo (porque os namorados da mãe têm nomes normais?), ela está sim, são R$ 200,00 na boca dela. Isso é só pra aprender a não tirar sarro do meu nome.

- Cris, por favor!

- Nando, tô morrendo de pena do jacaré.

- Que jacaré?

- Aquele que deu origem ao teu chinelo.

- Chinelo?

- Sim, tem a sola e as tiras. Seria um chinelo, não?

“Adoro cadela que sabe pular janela, adoro rimas. Fica divertido tirar sarro dos outros. A mulher do meu chefe diria que tudo que acontece na sua vida é você quem atrai. Só vou atrair felicidade. Aquela festa me deu ânimo, vou ligar pro trabalho dizendo que estou doente e fazer uma mega produção para o reencontro com o Alessandro”.

- Cadê meu celular? SINFONIA! DEVOLVE ISSO! Eca, que nojo essa coisa babada. Quando eu disse que queria um cachorro igual ao Beethoven não imaginei que ia ser parecido ao ponto de ser surdo. Pelo menos é uma cadela.

- Alô... chefe? (“Ta ruim isso, preciso enfraquecer a voz”).

- Julieta Cristina, não me chame de chefe, eu tenho nome e, por ser seu superior, tenho um pronome de tratamento.

(“Idiota... Calma Cris, você tem que ficar calma”).

- Desculpe Dr. Roque (“Ele vai achar que to morrendo agora com essa voz”).

- Agora sim. O que deseja?

- Eu não estou me sentindo bem hoje...

- Hum. E...?

(“Ameba, eu devo ter grudado Jesus na cruz usando Superbonder pra merecer esse chefe”).

- E aí que eu não tenho condições de trabalhar, vou procurar um médico, nunca faltei trabalho, né, chef... Dr. Roque? (“Fecha os olhos, acredite Cris, ele vai deixar”).

- Tudo bem, Julieta.

- Feitooo.. opa.. er... é.. Obrigada! (“E obrigada à mulher do chefe por me ameaçar com “O Segredo”. Dá certo, dá certo, é só acreditar”).

- Mas veja, Julieta...

- Sim? (“lá vem”)...

- Se você estiver melhor à tarde, venha trabalhar, ok?

- Vou sim! (“Aham, nem eu acreditei”).

- Lembrando que vai ser descontado do seu salário.

- Mas Doutor...

- Fique bem Julieta, minha mulher diria que somos conseqüência do que fizemos.

(“Começando a odiar ela”).

- Tu-tu-tu-tu-tu...

Ta bom, telefone, já entendi que ele desligou.

Ah, xiriguidum, o telefone tocando e é o Alessandro. Nervosa mode ON. Só de pensar que hoje à noite vou ver ele, então... Ai. Espera, primeiro atende.

- Oi Alessandro!

- Oi Cris, tudo bem?

- Tudo, e com você?

- É exatamente por isso que te liguei!

Ai!

- Fale

- Eu não estou me sentindo bem hoje...

- Já entendi.

Já fui entendendo e desligando o telefone. Eu odeio a mulher do meu chefe e O Segredo. Tudo que acontece na vida é você que atrai!

16 de nov. de 2010

Conto do Encontro

Madrugada de sábado pra domingo, fim de festa, ela chateada porque dançou pouco, ele chateado porque bebeu pouco. Ela olha pro lado e vê o cara interessantíssimo que conheceu naquela entrevista de emprego, de calça jeans e camiseta branca. Lindo e sorrindo pra ela. Acena e continua andando ao lado de seu marido, que a puxa em direção à saída.

Surpreendentemente, ela vira e diz "amor, te importa de ficarmos mais um pouco? Acabei de ver um conhecido, quero te apresentar a ele." E o tal conhecido era ele. O outro ele, com o qual ela andava sonhando ultimamente. O outro ele povoa seus sonhos sem pedir licença, lépido e fagueiro, serelepe como um menino que faz traquinagens no quintal do vizinho. E é – literalmente – o quintal do vizinho... Eles se cumprimentam, ela o cumprimenta (novamente), ele se lembra que os dois se conheceram na entrevista pro emprego que ela não conseguiu, e a conversa se seguiu. Eles conversavam, mas ela impressionantemente emudeceu. Não queria falar besteiras, não queria transparecer o nervosismo, ficou insegura. Tremia, suava nas mãos, os joelhos sumiram. Ele convidou o outro ele pra um mate no domingo à tardinha, despediram-se e foram pra casa.

Qual era mesmo a música que tocava no som ambiente do escritório, no dia da entrevista? Era um dos Stones, mas qual... não era Angie... ah, era Simpathy for the devil:

" Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealth and taste
I've been around for a long, long year
Stole many a man's soul and faith
And I was 'round when Jesus Christ
Had his moment of doubt and pain
Made damn sure that Pilate
Washed his hands and sealed his fate
Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what's puzzling you
Is the nature of my game
I stuck around St. Petersberg
When I saw it was a time for a change
Killed the Czar and his ministers
Anastasia screamed in vain
I rode a tank
Held a general's rank
When the Blitzkrieg raged
And the bodies stank
Pleased to meet you
Hope you guess my name, oh yeah
What's puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah
I watched with glee
While your kings and queens
Fought for ten decades
For the Gods they made
I shouted out
"Who killed the Kennedys?"
When after all
It was you and me
Let me please introduce myself
I'm a man of wealth and taste
And I laid traps for troubadors
Who get killed before they reached Bombay
Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
But what's puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah, get down, baby
Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
But what's confusing you
Is just the nature of my game
Just as every cop is a criminal
And all the sinners Saints
As heads is tails
Just call me Lucifer
'Cause I'm in need of some restraint
So if you meet me
Have some courtesy
Have some sympathy, and some taste
Use all your well-learned politesse
Or I'll lay your soul to waste"

Pareceu tão pertinente...

"Amanhã vou acordar cedo e fazer uma big faxina na casa e em mim", pensava ela, enquanto tomava um banho pra ir dormir.

15 de nov. de 2010

Feliz dia da Mulher

- Então Gaby, tudo certo pra festEnha?

- Tudo perfeito, amigaaa!

- Tá, então vou terminar de me arrumar, a gente se encontra lá!

Xiriguidum, festa com bebida liberada é tudo de bom! Ainda mais que só as mulheres bebem de graça, então não vai ter tanto bêbado enchendo o saco. Apesar de que o banheiro vai ficar um nojo. Azar, eu gosto. Deixa eu dar um “conferes”: vestidinho preto indefectível, botinha no jeito, a plástica capilar ficou um espetáculo, maquiagem perfeita...

"eu vou sair por aí, me divertir,

a noite me esperaaa"...

Péra, essa parada de música é lá dos “Contos Ele e Ela”... hihihi.

A noite promete ser perfeita, espero encontrar um gatEnho bem gatEnho e com nome normal.(Entrando na festa)

- Documento de identidade, por favor, preciso colocar o nome na ficha de consumição.

- Mas moço, não é bebida liberada pras meninas? Hoje é Dia Internacional da Mulher e é aniversário da Gaby!

- É frozzen liberado na área restrita às meninas, as demais bebidas são pagas. E o aniversário da Gaby não é feriado.

Drooooooooooga, só trouxe dinheiro pro táxi da volta.

- Tá aqui, moço.

- Julieta Cristina... anotado, pode entrar. Próxima! (Gaby entrega a identidade, porteiro dá um sorrisinho)

- Paula Gabriela... ok, pode entrar. Próxima! Késsia... certo, pode entrar.Próxima! Que gente com imaginação pra nomes, hein?(amigo entrega a identidade)

- Fagner? Só melhora... anotado, pode entrar. Próximo! Orlindo? Ah não,vocês tão de sacanagem! (Orlindo, emputecido)

- Qual é o problema, Francistônio? Qual é o problema com os nossos nomes? (Porteiro envergonhado, fecha a cara)

- Nenhum, senhor, foi só uma brincadeirinha pra descontrair.

- Certo, já tô descontraído, posso entrar?

- Sim senhor, boa festa.

Caraaaaaaaaa, que balada! Só os bonitos, todo mundo fazendo zóinho.

- Gaby, vamos buscar frozzen?

- Já é, amiga!

- Moço, me vê um frozzen de morango? E um de kiwi pra minha amiga.

Credo, isso é raspadinha ou frozzen? Se a intenção é embebedar a mulherada, vou ter que dar uma força...

- Moço, tem como colocar uma vodcazinha aqui? Tá tão fraquinho...

- Claro, gatinha! Uia, e olha que ele é fofo! De repente, no fim da noite... Vai saber...

Não creio, o guri deixou a garrafa de vodca em cima do balcão e saiu? Ah não, deu mole, não convém desperdiçar a chance...

- Gaby, se liga: vou pegar um frozzen pra Késsia, fica atrás de mim que vou te passar a garrafa e um copo vazio, tá?

- Cris, não acredito que tu vai ter essa cara de pau!

- Ah, fala sério, isso tá um qui-suco congelado! Quero ficar mais faceira que mosca em tampa de xarope, o jeito é subfaturar a vodka!

- Tá, mas se o rapaz perceber eu saio correndo!

- Certo, medrosa.

- Fofo, queria levar uma frozzen de limão pra minha amiga...

- Linda, leva quantas você quiser!

(Xi-ri-gui-dum, além de ganhar o gatinho vou embebedar a galera!)

- Vai Gaby, enche logo esses copos!

- Feito.

- Obrigada, lindinho.

- De nada, princesa, mas depois você volta aqui, tá?

- Certo que volto!

Feito, a galera tá se jogando nos frozzen batizados, o gatinho do bar tá na minha, a música tá boa... O que mais posso eu querer? Ai saco, o Beto. Ai saco de novo, ele tá vindo pra cá. Merda, o que esse mala quer agora?

- Cris, como você tá linda!

- Valeu.

- E aí, quer dar uma volta?

- Quero sim, mas não contigo.

Consegui, cortei o Beto pela primeira vez na vida! Acho que tô curada! Ah não, vou lá dar um pega no guri do bar, eu mereço! Aliás, nem preciso ir, ele tá vindo pra cá!

- Oi gatinha, vem sempre aqui ou sabia que eu vinha?

- Fofo, se eu soubesse que você tava aqui eu tinha vindo mais cedo...

- Como é o teu nome?

- Cris, e o teu?

Medo.

- Alessandro.

- Alessandro? Sem segundo nome nem nada?

- Nada, só Alessandro, por quê?

- Por nada... é que tenho um primo chamado Tadeu Alessandro, mas seria muita coincidência, né?

- Seria mesmo... Deve ser foda ter nome esquisito, né Cris?

- Deve sim, deve ser horrível...

12 de nov. de 2010

Conto da pergunta que não quer calar

Noite de terça-feira, zapeando os vários (e inúteis) canais à espera da NBA, ansiosos pelo jogo entre Lakers x Bulls, conversando sobre a beleza da Luciana Gimenez e a falta de beleza da Suzana Vieira... Benoliel (ela pensa "credo, que nome feio”, mas não comenta, enquanto avalia os personagens da novela) e sua "gatinha" (ele pensa "realmente, ela é uma gata, mas minha princesa tem os cabelos bem mais bonitos”) conversam, trocam declarações e um beijo. Parece ser o primeiro... Que saudade da sensação do primeiro beijo, ela pensa. Olha pra ele, que voltou a zapear os canais, com cara de paisagem.

"Como foi bom nosso primeiro beijo"...

Mas o que mudou? Por que agora ela olha aquela boca e... nada? Não sente mais aquela ânsia louca de ficar grudada naqueles lábios? Ela ainda se sente tão bem dormindo naquele peito com poucos pêlos, com aqueles braços
acariciando suas costas... Sente muita segurança no abraço dele. Mas não tem mais paciência pra beijos intermináveis.

Lembrou do jovem casal do parque, naquele final de tarde. E lembrou-se do que sentiu quando o beijou pela primeira vez. Parecia que não havia ninguém naquela praça à beira da praia em pleno janeiro. Chuviscava, estava quente.
Não lembra mais qual era a música, se é que havia música...


Ele continua trocando de canal e encontra um clip do Evanescence:

"I'm so tired of being here
suppressed by all of my childish fears
and if you have to leave
i wish that you would just leave
because your presence still linger here
and it won't leave me alone

These wounds seem to heal
this pain is just too real
there's just to much that time cannot erase

when you'd cry i'd wipe away all of your tears
when you'd scream i'd fight away all of your fears
and i've held your hand through all of these years
but you still have all of me"

Ela tenta resgatar aquela boca seca, o coração saltitante no peito, o tremor nas pernas, o arrepio que foi subindo (e descendo) pela coluna enquanto as mãos dele tocavam suas costas. Lembrou com tanta saudade da
primeira vez que ele a segurou pela nuca, que chegou a fechar os olhos e dar um pequeno suspiro, quase um gemido. Ele, sem perceber que ela estava com os olhos fechados e a respiração um pouco ofegante, comenta "você gosta dessa música, né? Se importa de eu ver se o jogo já começou?"

Música? Jogo? Ah, sim, pode trocar, sem problemas. Por Deus, pra onde foi toda aquela paixão?

11 de nov. de 2010

Odeio leite batido

Ai ai... Coisa bem boa, passar a tarde de folga na net! Tá chovendo lá fora, retoquei minha progressiva, nem pensar em água no meu belo cabelinho cor de ameixa! Abrir MSN (onde é mesmo que clica pra ele entrar direto? Acho um saco ficar digitando senha), Orkut, email, pronto. Tô conectada com o mundo, agora. Deixa ver... vou butucar a comu “Celebridades de Segunda Linha”, adoooro uma fofoquinha, apesar de achar isso tudo muito fútil.

(pipoca o msn)

... diz: Oi Cris!

“Ai xiriguidum, não creio, o MIMO do meu locutor amado!!! Ai, socorroooo!”

Cris diz: Oi queridão! Tô te ouvindo, aqui...

... diz: Pois é, tô sozinho aqui. Meu assistente foi buscar um lanche, aí aproveitei pra bater um papo.

Cris diz: Cheio de fãzocas no msn, né?

... diz: Mas poucas realmente interessantes.

Cris diz: ah... L

... diz: Pq essa carinha?

Cris diz: Me senti totalmente desinteressante agora.

... diz: Capaz, pq tu acha que vim falar contigo?

“XI-RI-GUI-DUM”!

(Porta do quarto se abre)

- Manaaa, me deixa jogar “letroca”?

- Guri dos infernos, morre!

Cris diz: me dá uns minutos? Vou afogar meu irmão na própria baba, já volto.

... diz: L

Cris diz: pq essa carinha triste? (acho que já li isso por aqui)

... diz: me senti totalmente desinteressante agora. Tu podeia ter pensado numa desculpa melhor.

Paulo Afonso maldito, agora tu volta pro útero da mãe, só que sem os ossos!

Cris diz: juro, é sério, o Paulo Afonso tá aqui me enchendo o saco, vou ligar o note pra ele parar um pouco

... diz: Porra...Paulo Afonso? Tu é realmente muito criativa. Já entendi, outra hora (se tu quiser) a gente conversa.

... diz:Tchau.

(... parece estar offline. As mensagens enviadas serão...)

Nãooo! Tá, Julieta Cristina, respira. Amanhã tu vai até a rádio mesmo, buscar teu brinde, aí tu leva uma fatia daquela torta que ele ama. De repente rola um convite pra uma cervejinha, vai saber.

(toca o celular)

- Alô?

- Cris?

- Ela.

- Oi, é o Lindomar, tudo bem?

Caralhos me fodam, o gatEEEnho do escritório! Tá, ele é estagiário, provavelmente o salário dele não pagaria nem minha progressiva + tintura, mas ele é tão lindinho!

- Oi colega! O que manda?

- Ah, tipo, sei lá... Tu acha que talvez assim, tu quer ir ao cinema comigo?

(se tu prometer não falar...)

-Hhmmm... o que tu tá pensando em olhar?

- Então...

(Putz! Começou com “então”...)

...esse filme do Will Smith, “A Lenda”, que ele fica tipo sozinho na Terra, tá ligada?

- Tô, tô ligada (em 220V, mas enfim). E tu quer ir quando?

- Hoje à noite, tá ruim pra ti?

- Ahm... deixa ver...

(tá Murphy, pode parar, não vai dar nada errado! Eu posso usar meu casaquinho novo, que tem capuz. Ele nem vai reparar.)

- Hmm... pode ser sim. Onde a gente se encontra?

- Eu te pego em casa, já sei onde tu mora.

- Certo, te espero então.

- Belê, às oito eu tô aí. Beijo, linda!

Belê? De que planeta ele é? Deve ser de outro mesmo, porque lindinho assim não deve ser terráqueo.

(algumas horas depois)

- Jujuuu, campainha, é pra ti!

- Sai da minha frente, gordo ranhento. Oi Lindo... mar! Bem no horário, hein? Que fofo!

- É, tipo, meu pai sempre falou que é falta de respeito eu se atrasar.

(Puta que me pariu, se atrasar? Vou ter que mantê-lo com a boca ocupada...)

- Vamos?

- Vamos sim, tu tá linda, hein? Massa essa calça manchada e rasgada, parece uma que vi no shóps.

- É? Obrigada...

(o filme mal começou e eles já estavam se beijando. Depois algumas cervejas e quando ela se deu conta, estavam num drive in, no banco de trás do carro, ele com o tico de fora, ela se inclinando em direção ao nunca feito.

Ai, socorro! Como foi mesmo que a mãe disse que fazia? Cuuu, por que eu nunca presto atenção no que ela diz? Tá, Julieta Cristina, respira. Pega com delicadeza e usa a mão que não tem anéis. Hmm, ele gemeu, devo ser boa nisso. Agora vai chegando perto, dá um beijinho... ééééca, que fedido! Tem cheiro de xixi e de suor velho, parece a cueca do Paulo Afonso! Péra, calma... sobe e desce com a mão, tranca a respiração (ééé, a mãe falou pra trancar a respiração), dá um beijinho na ponta. Taqueuspa, tá melado! Nojoooooooo!

- Linda, tu tá me enlouquecendo com esses dois dedinhos, segura com a mão toda, vai... cai de boca...

Puta merda, tô segurando com as pontas dos dedos! Muito nojento esse trocinho dele... Parece que tô segurando aquele sapo morto da aula de ciências... Ok, segunda tentativa, mão inteira, sobe, desce, beijinho, lambidinha do lado que não tá melento

- Aaaaaaahhhhhhhhhhhhhh...

Não. Isso não tá acontecendo. Esse guri fedorento gozou na minha cara e melecou minha franja! Vou ter que lavar e jogar fora minha progressiva que nem paguei ainda?

- Desculpa gatinha, mas tipo tu me enlouqueceu, tá ligada?

- Tá, tô ligada... sem problemas. Mas tu pode me levar pra casa, já tá tarde e minha mãe vai brigar comigo (onde quer que ela esteja)...

Gastei o dinheiro da torta pra rachar a conta com esse desgraçado, que me retribuiu com leite batido. Não vou poder ir à rádio amanhã, até porque vou ter que lavar o cabelo e não sei o que vai virar...

MURPHY DESGRAÇADO, SAI DO MEU PÉ!

- Ai pirralho adotado, tu dormiu na minha camaaa!

9 de nov. de 2010

Conto do eu falante

- Tchau amor!

- Tchauzinho!

Ele saí. Ela pensa: porque só ele tem que trabalhar em véspera de Natal? Assim, ela pensou em fazer um jantar especial para ele, já que não teriam ceia mesmo, só os dois. A melancolia do Natal tomava conta dela. Chocolate. Vontade repentina de tomar chocolate. Ela liga pra ele. Telefone toca, ele atende. Ela diz: -Amor, tudo bem?

- Aham, o que quer?

- Nossa (respira fundo)! Amor, você pode trazer um pote de chocolate quando vier pra casa?

- Levo.

Ele desliga o telefone. Uma lágrima caiu dos olhos dela. Só o Natal a deixa tão sensível, ele sabia disso. Ou não? Sim, ele sabe. “Nunca deixo transparecer”. Ele sabe. “porque foi tão seco comigo?” Ela se sente só. Longe da família. Longe dos amigos. Fazia algum tempo que a vida deles era assim. Ele e ela e mais ninguém. Com o som ligado, ela arruma a casa para esperar o retorno dele.


“Ele deve estar ocupado... sim, está ocupado”. Varre a casa. “Ele poderia estar ocupado, mas poderia não estar também” “Ele gosta de outra, certo que sim, deve ter medo de me magoar, não quer me fazer sofrer”. Ela chora e arruma a cozinha.

“Porque ele não me contou logo que gosta dela? Me pouparia de tanta coisa” Acha o celular dele em meio as arrumações da sala. “Não vou olhar! Celular é pessoal demais, estaria sendo histérica demais”. O celular pisca, ela se rende e o pega. Larga em cima da estante e resolve fazer um jantar. Talvez o último jantar para os dois. Gostaria de ouvir as confissões dele, olhando em seus olhos. Entre seus passos até a cozinha, pensava o quanto mexer nas coisas dele não fazia parte dela, e ela estava caindo nessas tentações.

“Minha vontade é por veneno no prato dele, ele não tem o direito de fazer isso comigo”.

“Pára, ele sempre gostou de nunca existirem cobranças em nosso relacionamento, porque me sinto assim?” Queima o arroz, ela sente raiva. Joga a panela pra dentro da pia. Lava.

“Quer saber? Ele não merece um jantar”. As lágrimas se misturam ao sabão e à água corrente. Ela vai pro banho. “Dói ter feito as escolhas que fiz. Deixei muita coisa de lado pra tentar ser feliz com ele. E pela maior parte do tempo eu fui, não mereço um final assim”. Sai do banho e se arruma como se fosse à uma festa. Ela resolve ir pessoalmente comprar o chocolate. Sim, se arruma toda para ir ao mercado, as pessoas vão achar que o Natal dela é importante. Sim, é o final de uma história, merece uma roupa à caráter.

“Vou avisá-lo que eu mesma vou comprar o chocolate”. Liga para a empresa, o telefone toca, toca, ninguém atende. Ela baixa a cabeça. “É a prova definitiva, fingiu bem, achei que estava com “nóias”, mas não. Se confirma”. Ela limpa a lágrima que rolava por sua face, para não borrar a maquiagem.
Olhou o celular dele mais uma vez, foi na direção dele, mas desviou o caminho. Foi até sua bolsa e decidiu ir comprar o chocolate, e passear sozinha, pra ver pessoas diferentes.
O rádio toca a canção deles, “More than words”:


Saying I love you
Is not the words
I want to hear from youIt's not that
I want you
Not to say, but if you only knew
How easy it would be to show me how you feel
More than words is all you have to do to make it real
Then you wouldn't have to say that you love me
Cause I´d already know
What would you do if my heart was torn in two
More than words to show you feel
That your love for me is real
What would you say if
I took those words awayT
hen you couldn't make things new
Just by saying I love you
More than words
Now that I've tried to talk to you and make youunderstand
All you have to do is close your eyes
And just reach out your hands and touch me
Hold me close don't ever let me go
More than words is all
I ever needed you to show
Then you wouldn't have to say that you love me
Cause I'd already know
What would you do if my heart was torn in two
More than words to show you feel
That your love for me is realWhat would you say if
I took those words away
Then you couldn't make things new
Just by saying
I love you More than words...


Ela teve certeza que era hora de acabar com aquele sofrimento, pegou a chave da casa, e no exato instante, ele chega em casa. Dá um beijo na testa dela, diz o quanto está cansado, não nota que ela estava maravilhosamente produzida, saindo de casa. Ela percebe que ele se esqueceu do chocolate. Ele explica que passou o dia trabalhando sob cuidados do chefe, pediu desculpas pela forma que teve que agir no telefone, deseja um feliz natal. Ela viu que ele estava sendo sincero, quando Ele foi pro banho, Ela saiu para comprar chocolate.

8 de nov. de 2010

E hoje é…

Hoje eu to vestida pra matar. Olha essa calça, ficou per-fei-ta na minha bunda. Aproveitando o feriado cretino de carnaval, vou à caça. Interprete-me como uma agressão ao santo das mulheres feias. Tô 'boa' hoje. Na rua..

Eu não posso acreditar que aquele que vem na minha direção é o José... Aff! A saga dos nomes ruins continua me perseguindo. JULIETA CRISTINA, lembre-se que você é responsável por aquilo que atrai! Será que ele lembra de mim? Por via das dúvidas, vou esnobar... Ele não me reconheceu.

- Crisinha?

Ai céus, ele reconheceu. Morro! Só ele me chama assim. Eu me viro agora, é hoje! Demonstrar surpresa, toma nota, cérebro!

- Oi!

- Oi Crisinha! Quanto tempo?!

- Josééé... Que surpreeesa! (“falsa demais. Vi o cara não faz nem dois minutos”...)

- Como você está linda!

- Obrigada, foi mamãe que fez. (“Porque eu brinco na hora errada?”)

- Hahaha, espirituosa como sempre.

- Josezinho, preciso ir. Prazer em revê-lo. Me liga qualquer hora se quiser. ("Mas pelo amor de Diós, escove os dentes. Alface ninguém merece. Precisava abrir tanto a boca pra rir?'')

E... ai!

Orelhão filho duma equina, precisava estar atrás de mim justo quando vou me virar? Obrigada por acabar com o meu dia!!!!!!" "Minha testa dói"...

Tudo escuro. Tudo nublado. Agora, tudo clareando... que voz é essa?

- Juju-u.. Julieeeta

- Sim (Céus, um nariz ambulante?). Sai de cima de mim Paulo Afonso. Opa! Pode me explicar o que aconteceu? Que lugar é esse, onde é que eu tô?

- Mana, tu tá no hospital. Fez 4 pontos na testa, vai ficar uma cicatriz ridícula.

- Uma cica...triz?

- É mana, enorme.

- Na testa?

- É o que tudo indica.

- Por causa de uma alface no dente alheio?

- Ahn?

- Eu quero minha mãããããeeeeee!

- Ih maninha, se acalma, a mãe foi tentar recuperar tua calça, já que tu resolveu desmaiar bem no canteiro recém pintado. Além de rasgar, manchou tudo.
- Pára o mundo! Eu PRECISO descer!

5 de nov. de 2010

Conto da epifania ululante

Ela acorda de madrugada e ele não está na cama.
Silêncio na casa. Ou seja: não deve estar no computador, nem assistindo televisão, nem fumando lá fora (ela sabe quando a porta fica aberta, os cachorros entram). De repente aquela cama, já tão grande, parece imensa.
E no instante seguinte, ela se sente livre. Será que ela ficou novamente bêbada, novamente brigou com ele e mandou que saísse de casa?
Será que ele deixou que ela ficasse bêbada pra ter o sono mais pesado, aproveitando pra sair sozinho? E se ele tiver saído sozinho, será que ainda está sozinho?

Sentou-se na cama e ficou olhando pras coisas do quarto. Olhou para o guarda-roupas... ele achou um absurdo comprar um móvel tão grande, e semana passada tiveram que comprar uma cômoda, pois não havia mais lugar pras camisetas dele. Isso porque as saias dela, claro, tomaram o espaço nos cabides. Olhou pra televisão... Eles gostam tanto de assistir os seriados na madrugada da TV... e conversam, trocam carinhos delicados, e acham falhas
no roteiro...

Já com os olhos marejados, ela começa a sentir um aperto no peito.
Entendeu que, se as coisas não estavam lá muito fáceis com ele a seu lado, sem ele ficariam insuportáveis! Quem a convidaria pra ir ao cinema domingo á tardinha (mesmo pra um filme de violência)? Quem traria água no meio da noite, quando ela acordasse de seus frequentes pesadelos?
Quem a acordaria dando mordidinhas em sua nuca toda manhã?

As lágrimas corriam por seu rosto, ela olhava pro travesseiro dele sem coragem de se mexer. Ao fundo, bem baixinho, ouviu Barão Vermelho, provavelmente vindo da casa do vizinho.

"Por Você!
Conseguiria até ficar alegre
Pintaria todo o céu
De vermelho
Eu teria mais herdeiros
Que um coelho..

Eu aceitaria
A vida como ela é
Viajaria à prazo
Pro inferno
Eu tomaria banho gelado
No inverno..."

Soluçava, maldizia a caixa de cerveja que bebeu à noite. "O que eu falei pra ele ir embora?", já estava certa de que a culpa era dela.

Barulho no banheiro do quarto de visitas ("alguém veio pra cá ontem?"), ele entra no quarto enrolado em uma toalha...

"Amor, acordei morrendo de calor e fui tomar banho no outro quarto pra não te... ei, você tá chorando?" perguntou, sentando-se ao lado dela e a abraçando. Abraçou tão forte, como se quisesse tirá-la do aparente transe. Não era transe. Ela ficou hipnotizada de alegria ao vê-lo entrar, e se deu conta de como fazia tempo que não prestava atenção nele. Ele, assim só de toalha, parecia um modelo de outdoor da Teka!

"Foi só mais um daqueles pesadelos, meu amor, não fica preocupado", e o abraçou tão forte, como há tempos não fazia. E aproveitou que ele estava só de toalha...

4 de nov. de 2010

Vingança é um prato que se come frio

Primeiro dia de aula é sempre um pé no saco... A Carminha Fru-Fru contando das "magníficas férias em Aspen", o ridículo do Adolfo, todo bronzeadinho (ai coisa mais linda) contando do carnaval em Porto Seguro, a Taty falando de como se divertiu naquele baile de carnaval que eu nem gosto de lembrar que fui.

Ai, Zeus, não acredito! Não, não e não! Vou falar com o reitor! O que esse cara tá fazendo aqui? Aliás, será que a esposa sabe que ele tá aqui?

- Lucinha, quem é aquele ali?

- Ai Cris, calourEnho. Fofo, né? Acho que vou ali dar as boas vindas...

- Vai nada nega, ele é casado.

- Claro que não, tá sem aliança, olha bem!

- Eu conheço ele, Lu... É casado sim. Nem posso dizer "maldito o dia", porque foram dias maravilhosos. A gente se divertia, transava, ria, transava, passeava... não, a gente não passeava. Sempre nos encontrávamos já dentro do cinema, ou nos shows, mas ele nunca passava pra me pegar. Nunca fomos num barzinho ou restaurante, e só quando eu tomei coragem pra dizer que me apaixonei ele disse que era casado. Tão novinho, tão lindo, tão bom de cama, tava bom demais pra ser solteiro.

Ai ai...G-Zuis, o Édson! Nãuuuuooooooô! Meu primeiro amor de adolescência, mil vezes não! Ixi, ele tá tão feio! Esquisito, parece que tá doente.

- Oi Édson (estranho, não fiquei nervosa)!

- Oi Cris! Nossa, como você tá linda! Esse cabelo... colorido realçou teus olhos, tá lindona mesmo!

- Obrigada (double estranho, não tô tremendo)! E aí, facul nova?

- É, finalmente passei no vestibular pra História, vamos nos ver direto pelo jeito.

- É, acho que talvez (ué, não tô "mimo"). Não saio muito da minha sala, mas a gente se vê sim.

- Já vi que vou adorar essa faculdade...

- Ah é? (Epa, só um pouquinho! Tô louca ou ele tá se querendo pro meu lado? Chegou a hora da vingança? Ah não, isso tá bom demais pra ser verdade!)

- É sim. Teu telefone ainda é o mesmo? A gente podia marcar de sair...

- Ahmmm ("olha o que perdeu, a gorda emagreceu, bem feito pra você, agora eu sou mais eu....")... Na verdade mudei meu cel faz pouco tempo, ainda não decorei o número. Me dá o teu, quando rolar eu te ligo.

- Mas tu promete que me liga?

- Sim, quer dizer... quando tiver alguma coisa legal pra gente fazer eu te aviso.

- Ou senão a gente se fala por aqui.

- Tá, até mais.

- Ei, péra, e meu beijo?

- Puxa da memória algum daqueles que eu vivia tentando roubar de ti e tu nunca quis...

Aeeê! E viva o Shake emagrecedor (apesar de que "shake" me lembra do Shakespeare, aí lembro que meu nome é...)...

- Julieta Cristina!

- Presente, professora...

- Tu pode fazer a gentileza de responder o que te perguntei?

Ai, fezes, tudo de novo!

2 de nov. de 2010

Conto do maldito celular

Noite quente de quarta-feira, festas de final de ano, nada pra fazer. Eles acabam indo pra casa de um casal de amigos, tomar umas cervejas e conversar. Conversar? tsc... E a anfitriã nem sai do quarto, está fazendo escova no cabelo. O dono da casa, um outro amigo e ele conversam animadamente sobre jogos de computador e vídeo-games. Ela odeia violência, mesmo em filmes e jogos. "o pior jeito de morrer é facada" diz o amigo. "Ele já morreu?", pensa ela... “se morresse não faria falta pra humanidade, pode estar certo disso”. "Tô jogando um agora que sou agente duplo, então depois que vencer, tenho mais duas formas de completar tudo de novo", diz seu marido.

Ai saco, mais um mês ouvindo esse jogo idiota! Ela bebe o último gole do vinho tinto doce que serviram já pensando na azia matinal do dia seguinte, em decorrência do vinho vagabundo. Mas naquele momento qualquer entorpecente seria muito bem vindo.De repente um carro chega, ouvindo Rolling Stones. Ela lembra do cara interessantíssimo que conheceu naquela entrevista de emprego que não deu certo, ele também ouvia Stones..."Start me up", pensa ela...a mesma música que o cara interessantíssimo ouvia. Ela continua afundada na cadeira branca de buteco, com a cabeça apoiada no encosto da cadeira. "Se é amigo desses chatos eu nem quero conhecer". O amigo entra, cumprimenta todos (inclusive a ela, pelo nome) e senta ao lado dela. Alguém serve nova rodada de vinho pra todos, ao que ele comenta, baixinho, com ela "o vinho lá da serra é bem melhor, né?". Epa! Foi esse
comentário que aquele cara interessantíssimo fez... Ela olha para o lado e é ele! Tentando disfarçar a surpresa, ela dá um sorriso e diz "sim, mal sabem eles como aqueles vinhos são bons." O cara também sorri.
Os outros continuam na empolgante conversa sobre facadas, granadas e Tomb Rider's, ela boceja, o cara interessantíssimo comenta, baixinho "eles vão
reparar se a gente for ao Posto comprar um vinho melhor?", ela responde que eles nem vão perceber. Eles se levantam devagar, sem arrastar as cadeiras, saem da casa, entram no carro e, literalmente, fogem.

O posto é perto, poderiam ter ido a pé, mas parece que queriam se aproximar... Chegam ao posto, procuram um vinho e nada... só aquelas porcarias doces e tingidas artificialmente... "Não entende como cantada barata, mas a gente pode passar lá em casa pra pegar um vinho? Não tô a fim de tomar isso aqui". Ela topa e eles vão. Ela não sai do carro: "se eu entrar nessa casa só saio amanhã", ele volta rápido com uma garrafa de vinho tinto Chateau La Cave. "Gente, até no vinho esse homem é perfeito?" Ele entra novamente no carro e vão em direção à autoestrada. "Ei, mocinho, pra onde vamos?", ele sorri (“ai caramba, que sorriso lindo”). "Não te preocupa, é aqui perto, tem um lago que fica lindo durante a lua cheia. "Papai Noel, obrigada" pensa ela. Ela não sabe ao certo como tudo aconteceu, mas de repente eles estavam aos beijos, apoiados no capô do carro, ouvindo Cachorro Grande:

"Sinceramente você pode se abrir comigo
Honestamente eu só quero te dizer
Que eu acertei o pulo quando te encontrei
Acertei
Eu sei a palavra que você deseja escutar
Você é o segredo que eu vou desvendar
Você acertou o pulo quando me encontrou
Acertou o pulo quando me encontrou
E então o nosso mundo girou
Você ficou e a noite veio
Nos trazer a escuridão
E aí então
Eu abri meu coração
Porque nada é em vão"

A garrafa de vinho já vazia, esquecida na grama... as bocas já não se desgrudavam a não ser para um gemido ou mordida no pescoço. Fazia tento tempo que ela não sentia tesão, tanto tempo que não sentia vontade de transar...Fazia tanto, mas tanto tempo que não se sentia desejada daquela forma...Não pensou em marido, aliança, casa, no que iam pensar se ela largasse tudo pra ir embora com esse cara interessantíssimo que conheceu naquela entrevista de emprego, mesmo sendo ele o provável futuro chefe...

"Gostei do seu charme e do seu groove
Gostei do jeito como rola com você
Gostei do seu papo e do seu perfume
Gostei do jeito como eu colo com você"

O cheiro dele é perfeito, o gosto dele é perfeito, não é nem muito alto nem baixo, nem magro nem todo malhado, é só aquele cara standard que ela queria. Básico e perfeito.

"Se ele me pegar pela nuca eu derreto", pensou... E as mãos dele foram subindo pelas costas dela, que estavam desnudas pela blusa frente-única... até que chegaram na nuca. Agora definitivamente ela não pesava em mais nada. Não havia um mundo, só os dois, a lua e o lago.

De repente ela ouve a risada da Simone Cabral, locutora do “Cafezinho”, uma risada bem roncada... "pera, isso não é horário de Cafezinho, que merda é essa?"...

"Teu celular tá tocando", dizia ele.

"Ãhn?"

Olha pro lado, e o marido insiste: "Tá dormindo ou tá bêbada? Teu celular tá tocando"

1 de nov. de 2010

Parãparãparãparã

E eu tava com tantas esperanças de arrumar um namor nesse carnaval... burra, burra, buuurra! Onde já se viu, namorado no carnaval. Só eu mesmo. Como é que eu fui acreditar naquele cara? Ódiooô!

Tá, eu fui sozinha pra festa de terça. Todas as minhas amigas tão namorando, muito bonito, euzinha aqui ficar segurando vela em pleno carnaval, ú ó, né? Até a mãe tá namorando! Acho que até o gordo do Paulo Afonso tá de rolinho com aquela dentuça de óculos que mora em cima da mercearia. Deve ser, eu nunca vi aquele retardado se preocupando com as roupas, agora até banho de manhã ele toma, tô desconfiada que ele comprou um perfume do Avon, que a Dinda vende.

Não devaneia, Julieta Cristina! Saco. Foi só chegar à festa pra dar de cara com o Mac. Acompanhado. E a desgraçada, vestida de odalisca, não tinha uma estria, uma bordinha de catupiry do lado da cintura! Eu me senti tão ridícula vestida de Coelhinha da Playboy, que vontade de arrancar fora meu rabo! Tufo de algodão idiota... Fui direto pro bar, quem sabe uma cerveja esfria minha cabeça e me anima, né? Meeerda, o barman é o namor da Carminha Fru-Fru, aquela patricinha cor-de-rosa lá da facul. Droga, não vou poder grudar no barman e beber de graça. Já vi tudo...

O negócio é ir pra pista. Ai saco, a dança do Créu! Como é que dança isso? Se eu for pra frente desse jeito todas as celulites da minha bunda vão aparecer! Ai, a Taty tá ali sem o “mala” do namorado dela, vou conversar um pouco até acabar essa porcaria de música.

- Oi, nega!

- Oi, Cris! Que linda que tu tá, vestida de Preta Gil!

(eu vou matar essa Mulher Maravilha de perna fina!)

- Ai, guria, como tá quente aqui, né? Meus bigodinhos tão escorrendo!

- Cris, tu quer cheirar lança?

(medo. Nunca fiz isso na vida, nem quando a mãe me ofereceu lá na Ilha do Mel. Azar: tá no inferno, abraça o capeta)

- Eba, quero sim, manda aí!

(uuuuóóóóó uuuuuuóóóóóó)

- Amiga, vou no banheiro, já volto.

Droooga, quem é a bicha imitando ambulância? Que nojo, esse gosto na minha boca! Por que falam “cheirar lança” se a gente praticamente bebe essa merda? Cadê a porra do banheiro? Ai mel dels, que gatEnho ali sentadEnho na mesa!

- Oi, tá perdido?

- Acabei de me encontrar, “bonecrinha”!

Ai, xiriguidum, não vou sair no zero a zero!! Hmm, ele tá meio suado. Por que essa bicha não pára de imitar sirene? Parece que esse barulho tá dentro da minha cabeça! Epa, guri passado, tá com a mão na minha bunda!

- Princesinha, vamos pro meu carro? Aqui tá tão quente...

- Vamos sim, tô derretendo.

Eu deveria ter desconfiado que aquele guri era muito novo pra ser taxista. O pior é a vergonha de ajeitar a roupa com o dono do táxi me olhando. E o filho da puta ainda me larga um “é carinha, tá bêbado mesmo, tanta gatinha lá dentro”. Velho babão, nojento, aposto que tô bem melhor que aquele bucho que tu come em casa, malditooo! Cadê o guri? Aliás, como era o nome do fedidinho? Ué, o amasso nem foi tão bom assim pra eu ter ficado tão molhada.

- AI NÃOOO! Menstruei!

Pelo menos esse rabo idiota de algodão vai me servir pra alguma coisa. Quer saber? Orelhas malditas, vão pro vaso agooora!

Preciso de um táxi, quero ir embora... Viva, ali tem um, pelo menos uma coisa pra acabar bem minha noite.

- Moço, zona sul por favor.

- Ué coelhinha, perdeu o par e as orelhas?

Juro, eu só queria cuspir no chão e sair nadando...