7 de nov. de 2011

Meu querido diário

Sempre procurei fazer tudo certo, talvez por saber que nunca me enquadraria nos padrões “boa moça” da sociedade. Por mais que eu me esforce em parecer autêntica, criativa, despojada e blablabla, acabo fazendo escolhas pautada pela satisfação dos meus pais. Que filho não quer merecer o orgulho de quem o pôs no mundo? Tá, eu sei, tem gente que não sofre com isso. Eu sofro.

Quase todas as escolhas da minha vida foram erradas pra mim mas de enorme valor para os que me rodeiam – e pelo visto me odeiam também. Resumindo: sou a gostosa que não goza por si só, traduza isso como quiser.

Aliás, nunca fez diferença pro meu ego ser gostosa ou não, ter barriga ou não, estrias ou celulites. Claro, eu preferia que minha bunda fosse mais bacana, tipo a da Mary Alexandre nos áureos tempos pré-FábioJreigrejaevangélica, mas também não me incomoda ter que ajustar a cintura das calças.

Passei por momentos de baixa autoestima, daqueles que a gente foge do espelho ou, pior, encara o espelho e soltta aquele suspiro da redenção. “Eu me rendo, isso é o melhor que posso ser pra mim”. Redenção e autosabotagem, mas quem se importa? É, nem eu.

Eis que tive a chance, a grande oportunidade de me sentir desejada, sexualmente conquistada, a gostosa que vai pra festa pra ser olhada mas já com um “alvo” previsto, desejado há tempos, só que antes era apenas platônico. Aquela noite não, nada de amores inatingíveis, só a vontade e o êxtase. Fui preparada, deixei tudo certo em casa pra que ninguém sentisse minha falta, fiz depilação, aquela hidratação profunda que deixa até a alma cheirosa, calcinha macia e sexy sob um vestido que delineava as formas do corpo.

Nada disso fez qualquer diferença.

Saí da festa sozinha, triste e conformada, plenamente consciente de que minha vida paralela é infitinamente melhor que a real. Lembro bem de ter entrado no taxi embalada pelo som de um suspiro, profundo e quase definitivo. Fechei os olhos e imaginei um final diferente, excitante e exasperado...

Saí da reunião quase feliz, satisfeita pela conquista profissional e por ter reencontrado amigos de infância, mas um tanto contrariada por não ter conseguido sequer um beijo roubado daquele cara que há tempos frequenta meus sonhos. Caminhei pelo estacionamento em direção ao meu carro, lentamente, como que esperando por alguma última chance. Buzinas leves. Reduzi ainda mais o passo e usei o instinto para descobrir de onde vinham e, sem pensar em mais nada, fui. Entrei no carro e nos beijamos, mãos tateavam cada parte do corpo que tanto desejaram, respiração cada fez mais sôfrega. Tempo que não medi, prazer que jamais senti, coisas que nunca fiz, constrangimento inexistente. Cheguei em casa horas depois, feliz e finalmente conformada com o seguimento da vida, já tivera meu quinhão de deleite.”

Abri os olhos e o taxi virou a última esquina para chegar na minha casa. As lágrimas não vieram, a lua não apareceu, o sono idem. Só o suspiro da redenção me fez companhia na noite em que não fui desejada na única vez em que isso foi importante.