23 de nov. de 2010

Conto do telecatch

“Amor, tá começando a luta, vem logo!”

“Eba” pensa ela, “adoro essas lutas coreografadas do SBT”, pega a pipoca no microondas e vai pra sala. Aconchega-se no sofá, deita a cabeça sobre a coxa dele e começa a rir da indumentária do desafiante. “Linda, se um dia eu pensar em aceitar dinheiro pra fazer isso, com esse tipo de roupa, me interna, tá?”, e os dois caíram na risada.

A luta seguia, descaradamente coreografada. Ela ganhava cafuné na nuca, foi ficando preguiçosa e acabou por dormir. Ele percebeu e diminuiu o volume da televisão, afinal ela acordou cedo pra fazer faxina em pleno sábado, enquanto ele passeava com os cachorros. Pensava em como ela é dedicada a tudo o que faz, desde uma faxina até a preparação de material para uma reunião importante no trabalho, sem descuidar dele, da casa e da própria aparência. Aliás, que aparência! Ela tem estilo, tem classe até de biquíni fio dental. É alegre, criativa, uma santa na rua e uma... “Eu devo ter sido uma pessoa muito boa em outra vida.”

Ela abre os olhos por um momento, quando o locutor grita “fim de luta por nocaute”, parece um pouco assustada. Olha em volta e lembra que está no sofá com ele. Sorri, ajeita-se melhor e cochila novamente.

Ao se virar, o vestido subiu e deixou seu corpo á mostra. Ele esqueceu a luta que recomeçava e ficou olhando as curvas de sua esposa. Malhada, bronzeada, as formas mais bonitas do que quando se conheceram, e já se vão anos do começo da relação. Lembrou da música que dedicou a ela num karaokê, totalmente bêbado, quando a pediu em casamento...”tens um não sei o que de paraíso e o corpo mais preciso que o mais lindo dos mortais, tens uma beleza infinita e a boca mais bonita que a minha já tocou...”

Seus olhos, repentinamente, se encheram de lágrimas, sentiu-se culpado.

“Se eu amo tanto minha mulher, se admiro tanto, porque penso tanto na Sabrina?”

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