2 de nov. de 2010

Conto do maldito celular

Noite quente de quarta-feira, festas de final de ano, nada pra fazer. Eles acabam indo pra casa de um casal de amigos, tomar umas cervejas e conversar. Conversar? tsc... E a anfitriã nem sai do quarto, está fazendo escova no cabelo. O dono da casa, um outro amigo e ele conversam animadamente sobre jogos de computador e vídeo-games. Ela odeia violência, mesmo em filmes e jogos. "o pior jeito de morrer é facada" diz o amigo. "Ele já morreu?", pensa ela... “se morresse não faria falta pra humanidade, pode estar certo disso”. "Tô jogando um agora que sou agente duplo, então depois que vencer, tenho mais duas formas de completar tudo de novo", diz seu marido.

Ai saco, mais um mês ouvindo esse jogo idiota! Ela bebe o último gole do vinho tinto doce que serviram já pensando na azia matinal do dia seguinte, em decorrência do vinho vagabundo. Mas naquele momento qualquer entorpecente seria muito bem vindo.De repente um carro chega, ouvindo Rolling Stones. Ela lembra do cara interessantíssimo que conheceu naquela entrevista de emprego que não deu certo, ele também ouvia Stones..."Start me up", pensa ela...a mesma música que o cara interessantíssimo ouvia. Ela continua afundada na cadeira branca de buteco, com a cabeça apoiada no encosto da cadeira. "Se é amigo desses chatos eu nem quero conhecer". O amigo entra, cumprimenta todos (inclusive a ela, pelo nome) e senta ao lado dela. Alguém serve nova rodada de vinho pra todos, ao que ele comenta, baixinho, com ela "o vinho lá da serra é bem melhor, né?". Epa! Foi esse
comentário que aquele cara interessantíssimo fez... Ela olha para o lado e é ele! Tentando disfarçar a surpresa, ela dá um sorriso e diz "sim, mal sabem eles como aqueles vinhos são bons." O cara também sorri.
Os outros continuam na empolgante conversa sobre facadas, granadas e Tomb Rider's, ela boceja, o cara interessantíssimo comenta, baixinho "eles vão
reparar se a gente for ao Posto comprar um vinho melhor?", ela responde que eles nem vão perceber. Eles se levantam devagar, sem arrastar as cadeiras, saem da casa, entram no carro e, literalmente, fogem.

O posto é perto, poderiam ter ido a pé, mas parece que queriam se aproximar... Chegam ao posto, procuram um vinho e nada... só aquelas porcarias doces e tingidas artificialmente... "Não entende como cantada barata, mas a gente pode passar lá em casa pra pegar um vinho? Não tô a fim de tomar isso aqui". Ela topa e eles vão. Ela não sai do carro: "se eu entrar nessa casa só saio amanhã", ele volta rápido com uma garrafa de vinho tinto Chateau La Cave. "Gente, até no vinho esse homem é perfeito?" Ele entra novamente no carro e vão em direção à autoestrada. "Ei, mocinho, pra onde vamos?", ele sorri (“ai caramba, que sorriso lindo”). "Não te preocupa, é aqui perto, tem um lago que fica lindo durante a lua cheia. "Papai Noel, obrigada" pensa ela. Ela não sabe ao certo como tudo aconteceu, mas de repente eles estavam aos beijos, apoiados no capô do carro, ouvindo Cachorro Grande:

"Sinceramente você pode se abrir comigo
Honestamente eu só quero te dizer
Que eu acertei o pulo quando te encontrei
Acertei
Eu sei a palavra que você deseja escutar
Você é o segredo que eu vou desvendar
Você acertou o pulo quando me encontrou
Acertou o pulo quando me encontrou
E então o nosso mundo girou
Você ficou e a noite veio
Nos trazer a escuridão
E aí então
Eu abri meu coração
Porque nada é em vão"

A garrafa de vinho já vazia, esquecida na grama... as bocas já não se desgrudavam a não ser para um gemido ou mordida no pescoço. Fazia tento tempo que ela não sentia tesão, tanto tempo que não sentia vontade de transar...Fazia tanto, mas tanto tempo que não se sentia desejada daquela forma...Não pensou em marido, aliança, casa, no que iam pensar se ela largasse tudo pra ir embora com esse cara interessantíssimo que conheceu naquela entrevista de emprego, mesmo sendo ele o provável futuro chefe...

"Gostei do seu charme e do seu groove
Gostei do jeito como rola com você
Gostei do seu papo e do seu perfume
Gostei do jeito como eu colo com você"

O cheiro dele é perfeito, o gosto dele é perfeito, não é nem muito alto nem baixo, nem magro nem todo malhado, é só aquele cara standard que ela queria. Básico e perfeito.

"Se ele me pegar pela nuca eu derreto", pensou... E as mãos dele foram subindo pelas costas dela, que estavam desnudas pela blusa frente-única... até que chegaram na nuca. Agora definitivamente ela não pesava em mais nada. Não havia um mundo, só os dois, a lua e o lago.

De repente ela ouve a risada da Simone Cabral, locutora do “Cafezinho”, uma risada bem roncada... "pera, isso não é horário de Cafezinho, que merda é essa?"...

"Teu celular tá tocando", dizia ele.

"Ãhn?"

Olha pro lado, e o marido insiste: "Tá dormindo ou tá bêbada? Teu celular tá tocando"

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