26 de jan. de 2011

Anjos caídos

O negócio é o seguinte: o céu é um saco. Pode crer, um pé no saco,calçando coturno com bico de ferro. Pra doer mesmo, de tão chato. O esquema aqui é repetitivo como uma ladainha, tipo tua vó rezando o terço, tá ligado? Aliás, o véio Pedro enche o saco explicando que a porra do terço é pra ser rezada 4 vezes. Então é quarto, cacete! Velho não consegue aceitar as mudanças, inferno...Bosta, esqueci que não se pode dizer “inferno” aqui. Ai, caralho! Toda vez que a gente fala isso aí toma um raio na bunda. Meu asterisco tá sem pêlo de tanto choque que já tomei. Nesse último milênio a coisa tá menos chata, chegou um parceiro que também acha isso aqui um tédio, a gente até consegue traficar umas deliciazinhas pra se divertir. Escondido, claro. Um cigarrinho do capeta (bosta, lá vem o raio), umas cervejas, umas anjinhas... Só pra conversar, porque a primeira coisa que fazem quando a gente é “promovido” a anjo é arrancar nossas bolas ou costurar as perseguidas das gurias. Saca, cachorro castrado não incomoda. Até rola uns beijinhos, mas não tem nem “aquilo na mão” nem “mão naquilo”. Não temos aquilos. Merda.
Todo dia chega gente nova, todos chatos e vestindo camisolões de cor pastel. Vai ser engraçado quando a Constanza Pascolato vier pra cá,ela só usa preto aí na terra. Se bem que eu acho que ela nem vem pra cá, porque ela é gente boa e aqui só tem mala. Mala pesada, saco de leite furado, saca? Gente que dá chulé em pé de mesa, azia em sal de fruta, chato que nem chinelo de gordo. Se é um pouco, um nadinha gente boa, reencarna rápido. Dizem os superiores que essas pessoas precisam voltar pra Terra pra aprender. Aprender a ser chato, só se for!As reuniões dos Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos foram transferidas pro Purgatório. Era uma das poucas coisas divertidas quero lavam aqui. Fora, claro, o “Bonde das Bichas” gritando “não épecado, não é pecado”, mas a piada já perdeu a graça.
O meu protegido é um mala também. Bom, ele era legal, era povão e cachaceiro, andava tão bêbado que até perdeu um dedo fingindo que trabalhava. Agora só anda de terno, tá sempre num avião, continua cachaceiro mas só fala que não sabe de nada. Essa piada também perdeu a graça, mas eu tenho que ouvir todo dia.O protegido do meu parceiro é mais bacana. Ele é ator, pega umas atrizes gostosas e circula num meio podre, todos se achando celebridades. É uma êra êra, quem não fuma cheira. Ele, inclusive. Se diz em tratamento, mas sempre volta pro mesmo lugar, pra mesma boca. O legal é que a gente aproveita a onda dele pra contrabandear uns tecos pra cá. E vai melhorar assim que o nosso superior supremo ajudar o cara a voltar pra uma novela. Tô no aguardo! Enquanto isso, vou ali cuidar do avião do meu protegido. Cara chato,não aquieta essa bunda no Brasil, ainda fica inventando moda com o Irã. Ó, eu não sei falar o nome do Arrmúd, não consigo trabalhar direito, inferno.

Merda, que dor na bunda!


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