26 de out. de 2010

Conto escrito no guardanapo

Repentinamente, surpreendentemente, ele a convida pra jantar.


"E então ela se fez bonita, como há muito tempo não queria ousar, com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar. Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar, e cheios de..."


Cheios de silêncio, entraram no carro e foram ao restaurante. Foram recebidos pelo chef, um amigo de vários anos, e conduzidos à melhor mesa, perto da janela, onde uma leve brisa refresca o ambiente e ele pode fumar. E por mais que ela diga que fumar em restaurantes é falta de educação, ele não consegue se abster.


"O que você quer comer, amor?", pergunta ele, esperando que a resposta seja a mesma de sempre. Mas desta vez não foi. "Amor, eu sei que você não gosta de pizza, mas eu tô morrendo de vontade. Quem sabe pedimos uma brotinho de calabreza pra mim e uma porção de filé com fritas, que você gosta tanto?". Ele ficou um pouco emburrado, deu um sorriso que não chegou aos olhos e "quem sabe a gente escolhe algo que os dois gostem, pra comermos juntos?". Ela já sabe o que responder..."certo amor, vamos pedir o filé com fritas e frango a passarinho".

E ficou pensando... “o que adianta eu fazer dieta e ginástica pra depois comer isso? E porque eu sempre peço o que ele gosta de comer, se ele só gosta de comer isso? Ele acendeu um cigarro, ela prestava atenção aos nomes assinados nas paredes do restaurante. O pedido chegou, eles pediram uma cerveja e começaram a comer. Em silêncio. Eles aparentemente não têm mais assunto, por mais que ela tenha tanta vontade de conversar. Tantas novidades, alguns textos interessantes que leu sobre o cd novo daquela banda legal. Mas ela já cansou de monólogos.

2 comentários:

Rosana Meyer disse...

A gente conversa, se mostra, desnuda o corpo e a alma, se entrega e... ficamos com cara de loucas, jeito de criança mimada exigindo atenção. Lindo, Ana. Lindo, de doer junto...

Unknown disse...

mais comum do que se imagina.. ai vale aquele velho, batido e até mesmo brega ditado: antes só do que mal acompanhada!

Conto perfeito!